Memórias com cheiro de Terra



Aqui há um verão intenso com raios solares que atravessam meu corpo sem igual. Tenho conseguido absorver aquilo que o sol nos oferece de presente todos os dias, a energia. E nesta onda de calor nada melhor do que tentar amenizar o mesmo com lugares assombreados e riachos. Deixei meu diário encostado nas raízes de uma árvore muito bonita com suas folhagens que parecem rabiscos e cores com tonalidades suaves. Desatei as sandálias e fui caminhar na terra molhada e macia pela qual um pequeno riacho atravessa com toda a sua majestade de libélulas. Quando mais nova, lembro-me de ficar sentada em algum canto reservado, pensando em como eu poderia me unir com os elementos da natureza e do mundo. Ficava horas imaginando ser um bicho-pau. Ou uma criatura que habita os buracos nas árvores. Eu queria ser estrela, nuvens, mar, pássaros e flores. Eu queria ser qualquer coisa assim, menos uma pessoa. Ficar sentada distante observando as pessoas sempre foi meu prazer. Na minha mente visualizava-as em câmera lenta, observava cada gesto e cada movimento. Era quase uma festa.

Hoje nada é muito diferente de quando criança, pelo menos a respeito de querer ser outra coisa que não fosse uma pessoa. É estranho pensar sobre isso na minha atualidade. Meus dias são tão corridos e as vezes tão frio, que lembrar de momentos da infância aquece a alma. Meus passeios tem sido solitários, livres de tensões que a vida cotidiana nos trás. Andar sozinha entre caules robustos de árvores, relva branda em verdes-claro, brisas quase que despercebidas e uma vontade enorme de ser pássaro. Dias assim devem ser registrados nas folhas amareladas de um caderno, memorizados e transformados em meditação. Infelizmente não vivo no campo com o abraço da natureza, toda memória que eu possa ter são guardadas das mais variadas formas. As vezes para ter momentos de grandes contentamentos basta relembrar as belezas estéticas que vivemos e absorvemos. É tão prazeroso ter uma alma, carregada de cheiro de terra e grama.

6 comments:

  1. Também já senti essa vontade de ser alguma coisa menos humana. Aliás, as vezes eu sinto como se isso ainda pudesse ser, mas tenho certeza de que não passa de um devaneio. Engraçado. a gente as vezes deixa a mente torturada por impressões que angustiam sem conseguir nexos cabíveis a qualquer orvalho que venha a ser alívio. Sabe. Tanto faz, as vezes.
    Sou absolutamente a favor e igual na vontade de natureza que você tem. <3 e toda vez que leio pessoas que sentem assim, me sinto aliviada, porque, nossa, as vezes é difícil ser eu...
    :)
    me agrada ler o que você escreve.

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    1. Sabe Gabi, as vezes é maravilhoso imaginar-se de tal maneira, sendo algo que não somos. Eu penso que a nossa alma guarda memórias dos cosmos e da natureza, penso que de alguma forma temos uma ligação e somos e estamos em comunhão. É por isso que penso tanto nisso. É por isso que me sinto tão 'não humana' as vezes. ♡

      Eu fico contente em saber que se identifica.
      Me agrada muito encontrar pessoas que pensam e sentem isso. É mágico.

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  2. Compartilho dessa mesma vontade, Anite: gostaria às vezes ser qualquer outro ser, menos humana. Estes pensamentos habitam por vezes aqui dentro, mas costumo vê o lado bom de tudo... Acredito que esta minha forma humana deu-me a capacidade de fazer coisas que uma árvore não pode fazer, por exemplo, posso caminhar, correr, andar de bicicleta por aí... Posso com minhas mãos e pés ajudar a construir um mundo melhor, mesmo que pequenino. De alguma forma a ajudar estes seres tão singelos.

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    1. Sim Mia, o a fato de ser 'humana' é como você deveria vir para Terra, é como você deveria nascer e viver para poder sentir e fazer coisas que uma concha do mar não poderia. Sem contar que, com esta forma podemos acolher e ajudar os pequenos seres e elementos que constitui a nossa existência. Isso é profundo e delicado.

      ♡ Amplexos, querida.

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  3. Quando pequena, me lembro de uma vez ter dito para minha mãe que gostaria de ser uma árvore. A importância que elas têm para nós, a simplicidade que passam... É tudo muito mágico! Ou então uma borboleta, tingida de azul nas asas. <3

    xx

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    1. Eu lembro-me das árvores como aquelas amigas silenciosas e que guardam segredos. Eu conversava e abraçava-as (ainda o faço) e as vezes enterro abaixo delas fragmentos de papel com escrituras mágicas. As árvores de fato são grandes amigas e acolhem nossa alma com sua sombra doce.

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